(Uma sala, branca, sem profundidade, redonda. Luzes estourando no teto e nas paredes. Tudo muito limpo, e vazio.)
ELE -É um sentimento. É um sentimento... - ele grita, eufórico,como um pai alucinado com a descoberta de seu Frankenstein.
ELA -Como você grita, eufórico, alegre, a plenos pulmões, algo que não existe em mãos... apenas em sensação...
ELE -Que não pode ser transferido, apenas repassado de maneira impensada. Como a verdade que somos. Temos orgulhos,preconceitos... e só transmitimos isso... -e num rompante, ele chora e quase ri ao mesmo tempo.
ELA -Sei que tudo isso é meu. É que assim, eu não posso continuar. (tempo) Talvez... eu mude de novo. Talvez eu volte pra carteira de escola e use somente lápis de cor (ri). Vou tentar colorir algo que vem e vai da minha cabeça... (chora)
ELE -Estou tentando de forma impune não ser condenado por causa dele, que sai em hora tão inoportuna.(corrige-se)Não sai simplesmente. É um... resgate... que se faz a... fórceps (emociona-se)... e numa chance de colar figurinhas... no meu coração, remendo o rebento, e arrebento meu peito, e coloco pra fora de maneira confusa e desordenada uma profusão de seres...
(quebra)
(Uma sala, abarrotada de livros, e papéis jogados. A desordem reina nesse ambiente, escuro, com flashs de luz)
Escritor -Que palavra bonita eu escrevi. O problema é que o ego atrapalha e as teclas saltam e ressaltam as batidas do meu coração. Assim eu não posso mais escrever, pois os dedos não acompanham a batida do meu coração... a cabeça treme num soluço descontrolado e não enxergo...
ELA -(silêncio)
(quebra)
ELE (com o sentimento em mãos) -São líquidos que vazam de alguma válvula do seu corpo robotizado que insiste em sentir e ressentido eu fico sem saber o que dizer pra ele... Que o ar vai acabar, e que por mais que o queira... ele vai ter que ir.
(quebra)
(ela está afastada, lendo o texto. O escritor, fala com os livros)
Escritor -Escrevo pra ela, pois não sei como falar. Por isso, eu escrevo e me arrependo e não digo, apenas repasso, algo que me foi passado.
ELA (como se estivesse ouvindo o tempo todo) -Sentir... passando o tempo do lado de uma pessoa. De um ser, que me faz parte.
Escritor -Assim como você que me lê faz comigo. Compartilha, e nessa partilha eu perco pedaços de mim e você ri, sorri...
ELA -E eu choro e repico numa batucada de verão. Foi isso. Uma batucada de verão que sem sentido tomou conta de nós e nos faz saltar por toda a avenida e nos fez sentir jovens, e assim eu termino... jovem... e velha.
Beijos e abraços
carta para a minha Princesa
Há 12 anos
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